Exclusão, o não que aprisiona…

Por René Schubert

“Uma pessoa está em paz quando todas as pessoas que pertencem a sua família tem lugar em seu coração”  Bert Hellinger

Dentro do Sistema Familiar existe uma dinâmica, comum à todas famílias, e que tem efeito muito forte e negativo: A exclusão.

Na definição do dicionário temos: Do latim exclusĭo, a exclusão é a ação e o efeito de excluir -deixar alguém ou algo de lado, descartar, negar possibilidades, segregação, em que há afastamento. Como exemplo temos: “ela foi alvo da exclusão dos colegas; Ele não pode mais entrar no recinto e participar das celebrações pois foi excomungado; exclusão social, política, financeira; João foi deserdado pelo pai e não pôde receber a herança familiar; Pelo habito de beber em excesso ele foi excluído da lista de convidados em festas familiares.”

Por vezes esta exclusão acontece de forma consciente e intencional, mas em outras vezes ocorre de forma inconsciente e inconsequente. Inconsequente pois não se tem real consciência de como aquilo afetará a si mesmo, a estrutura familiar e mesmo campo social com aquele gesto, postura e atitude.

Exemplos de exclusões no sistema familiar: Não convidar determinado parente para uma festa por ele se mostrar inconveniente, por ser “chato”, por ter comportamentos que não são bem vistos pela família; Evitar ou mesmo negar contato com algum membro familiar por opiniões e crenças divergentes à sua; Afastar determinado membro familiar por ele ser alcoolista, usuário de drogas e/ou por apresentar determinado tipo de doença e/ou condição física limitante; Expulsar um pai, mãe, filho ou filha de sua propriedade e/ou negócio por opiniões divergentes, desapontamentos ou conflitos recorrentes; Ignorar ou rejeitar a existência de determinado parente; Ocultar certos membros ou historias familiares por vergonha, conflitos, magoas anteriores; Hostilizar e rechaçar pessoas por sua aparência, escolhas, jeitos, manifestações singulares; entre vários outros exemplos.

A exclusão causa tensão e desequilíbrio no sistema familiar. Sobre tal assunto, tal pessoa, tal situação, não se pode falar, conversar, opinar, refletir. Isto causa confusão, sentimentos conflituosos, desavenças e divisões no núcleo familiar.

Sem falar a energia e investimento psíquico gasto para manter “a coisa” afastada e excluída. Como Sigmund Freud apontava na psicanalise, o material reprimido no inconsciente exerce grande força sobre o sistema consciente pois quer constantemente voltar a ocupar seu lugar de origem e, para mantê-lo distante o consciente utiliza de diversos artifícios, recursos, defesas e energia para que o material fique suficientemente longe. Quando mantenho algo segregado, separado, afastado, quanto de energia e tempo gastamos para fazer isto?

Seguindo uma reflexão proposta por Bert Hellinger:

“Tudo aquilo de que me lamento ou queixo, quero excluir. Tudo aquilo a que aponto um dedo acusador, quero excluir. A toda a pessoa que desperte a minha dor, estou a exclui-la. Cada situação em que me sinta culpado, estou a exclui-la. E desta forma vou ficando cada vez mais empobrecido. O caminho inverso seria: a tudo de que me queixo, fito e digo: sim, assim aconteceu e integro-o em mim, com todo o desafio que para mim isso representa. E afirmo: irei fazer algo com o que me aconteceu. Seja o que for que me tenha acontecido, tomo-o como a uma fonte de força. É surpreendente o efeito que se pode observar neste âmbito. Quando integro aquilo que antes tinha rejeitado, ou quando integro aquilo que é doloroso para mim, ou que produz sentimento de culpa, ou o que quer que me leve a sentir que estou a ser tratado de forma injusta, o que quer que seja… quando tento incorporar tudo isso, nem tudo cabe em mim. Algo fica do lado de fora. Ao consentir plenamente, somente a força é internalizada. Todo o resto fica de fora sem me contaminar. Ao invés de infectar, purifica-me.”

Desta forma o terapeuta Bert Hellinger aponta para uma possível solução para a dinâmica da exclusão: a aceitação e integração. Claro, sabemos que tal não é  tarefa fácil. Por vezes necessita de um tempo de maturação e preparação. Mas aceitar e integrar é uma forma de lidar com esta dinâmica excludente que pode trazer muitos conflitos para nosso convívio e trocas familiares. É algo que nos escapa do controle – respingando sobre pessoas que nem fazemos ideia ou tenhamos intenção de afetar.

Agora fazem-se algumas reflexões em relação à exclusão em nosso sistema familiar: Antes de mais nada é importante tomar consciência em relação à dinâmica da exclusão em nossa vida. Alguns questionamentos podem auxiliar nisto, como: Há em sua história familiar alguma temática ou alguém que remeta à exclusão, afastamento, segregação? Sobre tal familiar não falamos…sobre este assunto não conversamos…melhor não falar sobre isto pois é incomodo e/ou perigoso? Pode deixar tal pessoa chateada falar disto, vamos mudar de assunto? Alguém ou alguma história da qual se fala pouco, ou não se fala, ou que causa silencio e tensão quando mencionado? Sobre o que se trata e sobre quem se trata? Quais informações você tem disponível sobre isto? Como você se sente, pessoalmente, em relação a isto?

Verifique se você também tem uma atitude de resistência, fuga ou exclusão em relação a isto. Perceba se lhe é possível entrar em contato com tal situação e avaliar a mesma de outras perspectivas.

O que acontece com você quando você entra em contato com este tema e se ocupa dele? Você fica mais tenso ou mais relaxado quando permite-se refletir e incluir este tema em seu dia a dia? Você pode abordar este tema com alguém de sua família, permitindo uma reflexão conjunta?

Se for possível, inclua em algum momento de seu dia, a possibilidade de se ocupar com esta temática e pessoa(s), situação. Verificando se com o tempo é possível, para você, aceitar a situação, pessoa, evento, tal como este(a) é.

Aceitar, Incluir e seguir adiante com respeito. Talvez, a partir de sua postura e atitude de aceitação e posterior integração, muitos aspectos comecem a fluir e transformar-se à sua volta. E, talvez, possa aliviar o percurso e história daqueles que vieram antes, e facilitar para aqueles que estão porvir.

Lembrando que há diferenças entre aceitar e concordar. Na postura de aceitação, digo sim ao que se mostra, como se mostra e incluo. Posso até não concordar, mas não excluo de meu campo de visão, da realidade, de minha vida ou consciência. Reconheço que existe e, que é algo para qual tenho opiniões divergentes, diferentes, mas…respeito.

É uma postura que Bert Hellinger sempre apontava nos livros e treinamentos: Reconheça aquilo que se mostra, da forma como se mostra, diga sim  a isto e deixe atuar sobre você!

Esta postura abre. Esta postura reconhece. Esta postura inclui. Esta postura transforma.

Fontes para pesquisa:

Reflexão desenvolvida a partir do vídeo – Retrato de Família – https://youtu.be/dtPhmOL4vnE

Bert Hellinger – As Ordens do Amor. Editora Cultrix

Bert Hellinger- A fonte não precisa perguntar pelo caminho. Editora Atman

Bert Hellinger – A exclusão – http://aconstelacaofamiliar.blogspot.com/2014/02/tudo-aquilo-de-que-me-lamento-ou-queixo.html

René Schubert – Refletindo a temática da exclusão no meio Familiar – Para plataforma Metaforum em 2019: https://metaforumbrasil.com.br/refletindo-a-tematica-da-exclusao-no-meio-familiar/

René Schubert – Constelação Familiar: impressa no corpo, na alma, no destino. Reino Editorial

Sigmund Freud – Cinco lições de Psicanálise (1909). Editora Imago

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