A prevenção salva vidas e preserva sonhos

O Outubro Rosa é um movimento de conscientização sobre a prevenção e o diagnóstico precoce do câncer de mama. Mas como surgiu esse movimento?

Alice Garcia

O Outubro Rosa é um movimento de conscientização sobre a prevenção e o diagnóstico precoce do câncer de mama. Mas como surgiu esse movimento?

Em 1990, em Nova York, aconteceu a Primeira Corrida pela Cura do Câncer. Nesse evento, idealizado pela Fundação Susan G. Komen for the Cure, foram distribuídas fitas rosas, com o intuito de sensibilizar o Congresso Americano a investir na pesquisa e tratamento do câncer de mama. No Brasil, esse movimento se consolidou nacionalmente a partir de 2008.

Em 2024, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estimou que haveria no Brasil 73.610 novos casos de câncer de mama, um dado que coloca essa doença como o tipo mais incidente em mulheres, com risco de 66,54 casos a cada 100 mil mulheres.

É importante enfatizar que homens também têm câncer de mama, cujo percentual é de apenas 1% de ocorrência. Todavia, na maioria das vezes os sintomas são negligenciados pelo fato de os homens desconhecerem esse dado. Por isso, o diagnóstico ocorre tardiamente, prejudicando as chances de cura.

O câncer de mama faz parte de um grupo heterogêneo de doenças e, por isso, apresenta diferentes manifestações clinicas. Há varios tipos histológicos de tumor de mama, alguns com detalhes genéticos particulares que determinam o comportamento da doença, tornando seu manejo mais fácil ou mais complexo.

Quando a doença já está instalada, os sintomas mais comuns são: nódulos palpáveis, mudança no aspecto da mama, retração ou saída de secreção pelo mamilo, nódulo palpável na axila e ou pele da mama espessada. Porém o diagnóstico precoce, ou seja, identificação da doença antes que quaisquer desses sintomas apareçam, deve ser realizado por meio da prevenção — lema do Outubro Rosa — o que, na maioria quase absoluta das vezes, significa a cura da doença com abordagens menos agressivas.


Como é feita a prevenção?

Autoexame das mamas (uma vez por mês), através da palpação de toda a mama, de forma delicada, em busca de imperfeições.

Exame clínico – visita ao ginecologista anualmente.

Exames de imagem – mamografia, ressonância magnética, se houver mamas muito densas, e ultrassom das mamas. Caso haja na família histórico de casos de câncer de mama ou ovário, esses exames devem se iniciar a partir dos 30 anos. Se não houver passado familiar, a partir dos 40 anos.

O tratamento do câncer de mama mudou substancialmente nos ultimos 30 anos com a chegada de novas drogas, novas técnicas de estudo molecular e genético, imunoterapia e drogas-alvo. Hoje dispomos de anticorpos droga conjugados (ADCs), que atuam como “cavalos de troia”, isto é, moléculas que carregam o quimioterápico e o depositam dentro do tumor, diminuindo substancialmente os efeitos colaterais e proporcionando maior concentração do quimioterápico diretamente no tumor ativo.


Temos sempre que lembrar que o câncer de mama não é uma doença única, aparece com características peculiares em cada paciente. Ao longo do tempo, pode se transformar e adquirir perfis celulares diversos da doença original, permitindo outras abordagens de tratamento. Esta doença pode se manifestar durante a gravidez e, nesses casos, a detecção tardia também vai impactar no prognóstico e na cura.

O câncer não será erradicado como sarampo ou catapora. Todas as nossas células nascem, crescem e morrem ao longo da nossa vida. As células tumorais perdem essa capacidade de morrer e se proliferam de forma incontrolável. Por isso a melhor e principal maneira de detê-las é a prevenção.

O Outubro Rosa é um movimento fundamental para ajudar a desmistificar o câncer. A população, em geral, deve entender e encarar essa doença que precisa de tratamento imediato, assim como em qualquer outra doença. No mundo inteiro, centenas de cientistas buscam todos os dias novas abordagens de enfrentamento da doença através de pesquisa e muito trabalho. Os governos e a indústria farmacêutica investem muito para que se chegue a novas possibilidades terapêuticas. Apesar de muito desagradável, porque cria medo e dor, o câncer deve ser encarado com determinação e força interior, e a mulher com diagnóstico deve buscar oportunidades para ter acesso a todos os recursos disponíveis — e cientificamente comprovados — para o seu enfrentamento.

Uma vez detectada a doença, o paciente e suas famílias devem ser muito cuidadosos para não se envolverem com tratamentos alternativos e mirabolantes que, frequentemente, fazem com que se perca um tempo precioso para o tratamento e controle da doença, situação que pode fazer o câncer se tornar incurável. É preciso lembrar também que doença incurável não é doença intratável. Há hoje várias linhas de tratamento disponíveis que permitem uma vida normal ao paciente, como acontece com o diabetes ou hipertensão arterial.

Por isso, o Outubro Rosa é fundamental. E é também um mês importante que deve ser utilizado para lembrar os governos e as empresas da necessidade de oferecer para todas as mulheres oportunidades para fazerem os exames preventivos e para as que já estão doentes a oportunidade de terem acesso às novas drogas, técnicas e formas de diagnóstico precoce.

Atenção: em 23 de setembro de 2025, o Ministério da Saude passou a garantir o acesso à mamografia a partir dos 40 anos, que antes era só a partir dos 50 anos de idade, mesmo que não tenha sinais ou sintomas do câncer da mama. De acordo com a pasta, essa faixa etária concentra 23% dos casos da doença.

Portanto, mulheres jovens e adultas, aprendam a conhecer seu corpo.

Lembrem-se, mensalmente, do autoexame das mamas. Façam sempre os exames preventivos e visitem seu médico com regularidade. Assim, poderão todos os dias celebrar a vida com um corpo saudável.


Alice Garcia é médica oncologista