Cessação do sofrimento

João Scalfi

Na condição de enfermidade, o sofrimento, para ser curado, encontra diversos meios eficazes. Alguns o atenuam, outros inóquos, e raros se apresentam como de eficiência incontestável.
A cura real, porém, somente se concretizará se a terapia extirpar-lhe as causas. Enquanto não se extingam as suas fontes geradoras, ele se manifestará inevitavelmente.
Nos reinos irracionais, nos quais o sofrimento resulta do fenômeno evolutivo através do desgaste natural das formas por desestruturação das moléculas e células, o concurso do amor humano atenua-lhe a intensidade, alterando o campo e proporcionando lenitivo de equilíbrio ou saúde.

O homem que pensa é responsável pela preservação da vida, que se manifesta em outros matizes e faz parte do conjunto que lhe sustenta a existência, possibilitando a evolução de todos os seres e princípios vitais.
A fim de que se possa fazer cessar o sofrimento, torna-se imprescindível a aquisição de uma consciência responsável, capaz de remontar-lhe às origens, analisá-las e trabalhá-las com direcionamento planejado.

A educação do pensamento, a disciplina dos hábitos e a segurança das metas são os recursos hábeis para o logro, sem os quais todas as terapias e técnicas se tornam paliativas, sem resultarem solucionada.

Em alguns casos o sofrimento, em si mesmo, ainda é a melhor terapia para o progresso humano. Enquanto sofre, o homem menos se compromete, demorando-se em reflexão, de onde partem as operações de reequilíbrio.
Sem o sofrimento, não há elevação moral, nem compreensão das finalidades da existência terrena.
Insculpidas na consciência, as divinas leis propelem a realização do bem que jaz em germe.
Educar a mente, disciplinando a vontade, constitui o passo inicial para extirpar as causas das aflições, infundindo responsabilidades atuais, geradoras, por sua vez, de novos resultados saudáveis, para propiciarem o futuro bem-estar a que se está fadado.
A recomendação de Jesus sobre o amor é de eficácia incontestável, por ser, este sentimento, gerador de valores responsáveis pela felicidade humana. O amor dulcifica o ser e incita-o às atitudes edificantes da vida. Mediante a sua vigência, pensa-se antes de tomar decisões, considerando-se quais as que são mais compatíveis com a ética e os anseios do próprio coração. Jamais desejando para o seu próximo o que não gostaria de experimentar, assumem-se compromissos de prosperidade, sem prejuízo de natureza alguma para si ou para os outros.
A própria lucidez gerada pelo amor induz ao perdão indiscriminado para todas as pessoas, por consequência, para si mesmo.
O olvido do mal, com abandono de propósitos de vingança, é inadiável para alguém liberar-se de expressiva soma de sofrimentos. As ideias deprimentes, acalentadas como resultados do ressentimento ou do desejo de retribuição malévola, geram enfermidades que dilaceram os tecidos orgânicos e desconsertam os equipamentos emocionais.

Quando alguém se liberta do lixo mental, acumulado pela ignorância e pela futilidade, começa o seu restabelecimento espiritual, toda uma atividade nova se lhe apresenta favorável, abrindo-lhe espaço para a saúde.
Nesse grupo de tentames edificantes está o autoperdão.
Quando alguém se perdoa, aprende também a desculpar, oferecendo a mesma oportunidade ao seu próximo.
O bem-estar que experimenta faculta-lhe a alegria de propiciá-lo ao outro, o ofendido, gerando uma aura de simpatia a sua volta, que se converte em clima de liberação do sofrimento.
A cessação real do sofrimento, portanto, dá-se quando, erradicadas as suas causas, desaparecem-lhe os naturais fenômenos das consequências.


Fonte: Momentos de Decisão (Divaldo Franco/Marco Prisco)