E quem cuida do/a professor/a?
Jackeline Susann
As/os professoras/es que fazem parte de nossa história desde a infância, cuidam e nos ensinam, convido você a fazer uma retrospectiva... de quem você se lembra e por quê? Eu sou professora e aprendi que me cuidar é chave para minha saúde, trabalho e bem-estar. Vamos conversar sobre isso?
Desde a infância, passamos grande parte da nossa vida na companhia das/os professoras/es, que se dedicam diariamente a nos ensinar. Com os docentes, aprendemos a ler, escrever, calcular, refletir, contar a nossa história, enfim, a descobrir o mundo... Sem dúvida, esta é uma função de grande valor social. Por isso, neste mês, em que se celebra o Dia do Professor/a, precisamos refletir sobre um tema muito importante e ainda negligenciado: e quem cuida do/a professor/a?
Quem cuida de quem cuida e ensina gerações e gerações nas salas de aula de milhares de escolas esparramadas no país? Quem cuida dos/as professores/as que, muitas vezes, não tem tempo nem para se dedicar à sua família e sua própria vida porque trabalha três turnos? Antes de falar de autocuidado como mais uma tarefa na corrida diária deste profissional, é preciso enfatizar a importância do seu trabalho tanto na educação como para o bem-estar coletivo e o desenvolvimento social e econômico.
O cuidado que o/a docente exerce vai muito além do planejamento e dos saberes curriculares porque passa pela atenção às necessidades emocionais dos estudantes, pelo acolhimento das suas dificuldades e pela dedicação integral, muitas vezes, à custa dos seus próprios momentos de descanso. Assim, é fundamental ficar atento/a para o limite pessoal entre o ensino e cuidado com o/a outro/a e o cuidado consigo mesmo/a.
Sabe aquela professora que é amada porque é um pilar para todos/as na escola? A professora que transmite tanta força que acaba não sendo cuidada pelos que estão à sua volta? Certamente, você conhece alguém assim, ou talvez se reconheça nessa descrição. É um processo sutil que, camuflado por elogios acerca da sua força e resiliência, acaba normalizando a sobrecarga de problemas que não lhe pertencem e que a/o leva a viver uma vida que não é mais a sua.
Em geral, professores/as no Brasil não contam com uma rede de apoio atuante, com pessoas com as quais possa compartilhar o peso das demandas educacionais, emocionais e sociais que emergem no dia a dia escolar. Estar sozinho/a pode provocar um profundo impacto na sua vida, principalmente, quando não encontra tempo nem energia para cuidar de si mesmo(a). Por isso mesmo, é preciso lembrar de impor limites no exercício da docência para que suas próprias necessidades não sejam negligenciadas e colocadas em segundo plano.
Trazer à tona situações que ficam invisíveis no corre-corre do dia a dia docente é uma forma de promover autoconhecimento e mudanças necessárias. Para atuar como docente e também para lutar por condições melhores de trabalho, é preciso estar descansada, ganhar força e vitalidade, desprender-se da sobrecarga diária e da responsabilidade individualizada com o cuidado coletivo.
Por isso, neste mês, pense nisso: celebre seu dia e lembre-se de que cuidar de você não é um desvio de função nem é luxo, mas é a base que sustenta sua capacidade de educar e cuidar. Permitir-se descansar, aprender a dizer não, estabelecer limites e buscar apoio não é um sinal de fraqueza, mas um ato de resistência e sabedoria.
Profa. Dra. Jackeline Susann Souza da Silva é pesquisadora com foco em relações de gênero e acessibilidade para pessoas com deficiência.
