Gerenciamento do tempo
Alessandra Miranda Soares
A maternidade é uma jornada de dedicação, que entrelaçada às necessidades ininterruptas de um filho/a com deficiência se transforma em um regime de 24 horas por sete dias por semana. É um universo em que as demandas terapêuticas, médicas e emocionais criam um campo gravitacional poderoso, puxando toda a sua energia, como mãe, para seu o/a filho/a. Nesse cenário de dedicação, a mãe da pessoa com deficiência pode se tornar invisível para si mesma, operando como um gerenciador do tempo impiedoso, focado exclusivamente na melhoria ou no bem-estar do/a outro/a.
É nesse ponto crítico que surge uma verdade inegociável: a habilidade de cuidar bem do outro/a não é medida pela capacidade de sacrifícios, mas sim pela robustez da reserva emocional e física da mãe cuidadora. Para que a “força motriz da casa” continue a funcionar, é imperativo integrar a prática da autogentileza — um conceito que não é luxo nem egoísmo, mas uma ferramenta essencial de sobrevivência e manejo cotidiano para mães de pessoas com deficiência.
Para além das atividades domésticas, você, mãe, gerencia crises, sistemas de saúde e luta por direitos, atua como terapeuta, enfermeira e advogada. Há uma sobrecarga cognitiva constante sobre você, que gera estresse e mina sua saúde física, mental e espiritual. Seu esgotamento não é um sinal de fraqueza ou falha de caráter, é uma resposta natural do corpo e da mente à exposição prolongada a demandas extremas, sem tempo suficiente para recuperação. A autogentileza atua aqui como um antídoto. Ela é a prática de tratar a si mesma com o mesmo calor, apoio e compreensão que você oferece ao/à outro/a.
Kristin Neff, pesquisadora da Universidade do Texas, argumenta: “A autogentileza envolve estar aberto e emocionar-se com o próprio sofrimento, oferecendo-se compreensão e paciência porque a imperfeição faz parte da experiência humana compartilhada”. Esse reconhecimento é o primeiro passo para gerenciar seu tempo interno. Colocar-se na sua lista de prioridades, sem culpa, é um exercício necessário.
Por isso, faça já sua lista de prioridade e se fortaleça!
Pausas para respirar: antes de lidar com uma crise do/a filho/a ou com alguma situação frustrante, reserve um minuto para respirar profundamente e quebrar o ciclo do piloto automático. Permita-se a escolha de uma resposta autogentil.
Reconheça suas emoções: ao invés de reprimir a raiva ou a tristeza (“Não posso sentir isso, meu filho precisa de mim”), seja autogentil com você e diga: “Estou me sentindo sobrecarregada e isso é compreensível...”. O reconhecimento valida seu sofrimento e desarma a autocrítica.
Delegar e aceitar ajuda: para melhor gerenciar o tempo identifique tarefas que podem ser realizadas por outros/as (parceiros, familiares, serviços de apoio), sem culpa.
Limites inegociáveis: aprenda a dizer não a compromissos sociais ou demandas adicionais que esgotam sua energia. Você é um recurso finito e precisa ser protegida com mais rigor do que qualquer orçamento financeiro.
Fazer algo que gosta: você amava pintar, escrever ou assistir a um filme, passe a reservar um tempo semanal para fazer isso porque é um ato revolucionário de autogentileza, e você merece...
A autogentileza não é uma opção, é o alicerce sobre o qual você constrói sua resiliência. Aprender a gerenciar o tempo significa proteger seu bem-estar. Ao colocar-se na sua lista de prioridades e ao fazer o que gosta, você se permite respirar e recarregar, ser humana diante de uma demanda sobre-humana. Cuidar de si é, no final das contas, o ato de cuidado mais importante que qualquer mãe gostaria de oferecer à sua família.
Profa. Dra. Alessandra Miranda Mendes Soares. Ufersa-RN. Especialista em Empoderamento de Mães de Pessoas com Deficiência.
