Liderança organizacional
Maribel Barreto
A consciência permite ao espírito humano
tomar conhecimento de si mesmo,
de suas operações e de seus limites.
(Edgar Morin, 2015)
Quando a consciência se expande, você torna-se capaz de observar a si mesmo e agir com mais lucidez diante dos desafios do viver, especialmente nas relações humanas e organizacionais. Essa lucidez é justamente o que possibilita, mesmo em um mundo acelerado e competitivo, preservar o estado de atenção, harmonia e equilíbrio, tarefa essencial a quem se compromete com o desenvolvimento contínuo da própria consciência.
Exercer a liderança consciente, aquela que é coerente com valores virtuosos e melhora as relações entre as pessoas e os ambientes, é um processo que nasce dentro de você. A consciência é o espelho que reflete o que há de mais profundo no ser humano: suas fragilidades e possibilidades de evolução, em sintonia com a ordem universal, através da manifestação das suas leis, que também repousam em si.
A transformação começa no reconhecimento de quem você é, e no entendimento do que ainda pode ser desenvolvido. Esse movimento interior abre o caminho para o aprimoramento individual e coletivo, impulsionando um ideal que transcende o “eu” e alcança o “nós”, manifestando-se nas várias instâncias da vida.
O papel do líder consciente, nesse contexto, é o de inspirar e orientar com clareza de propósito, buscando sempre o melhor para o todo. Liderar não é impor, mas criar condições para que você e os outros tornem reais seus ideais. A consciência manifesta-se como uma força que auxilia o líder a raciocinar diante das demandas de realização, a administrar as contingências e a superar dificuldades ou aparentes impossibilidades. Esse processo conduz ao ideal de forma integrada, em sintonia consigo mesmo, com o outro e com o meio em que atua.
Quando o desenvolvimento interior é negligenciado, manifestam-se os 3Ds, desconfortos, desalentos e desencontros, expressões de uma desordem individual e social que afastam o ser humano do ideal. Uma consciência mais desenvolvida, ao contrário, promove o movimento inverso: une, harmoniza e integra. Quanto menor o investimento nesse processo, menor o autoconhecimento e maior a proximidade com os conflitos que marcam o dia a dia.
As organizações, enquanto organismos vivos, constituem um todo em constante funcionamento. Quando uma de suas partes falha, o equilíbrio do conjunto é comprometido. O surgimento dos 3Ds tem origem, muitas vezes, em lacunas de conhecimento, capacidade ou atitude de algum de seus integrantes. Reverter esse quadro e restabelecer a harmonia do sistema requer que cada ser humano atue de forma integral, sustentando-se em três dimensões indissociáveis: sentir, pensar e agir, em perfeita sintonia. Sempre que uma dessas dimensões é relegada, instala-se a desconexão e, com ela, o conflito.
Por isso, é essencial cultivar o despertar do sentir, o exercício do saber pensar e o agir com retidão, para que você possa resgatar a visão do todo, ainda que como parte dele. O autoconhecimento torna-se, então, um instrumento fundamental para o aprimoramento dos seus conhecimentos, capacidades e atitudes cotidianas, constituindo-se em um convite permanente da consciência e revelando-se como fonte de renovação nas dinâmicas humanas e organizacionais.
Profa. Dra. Maribel Barreto é escritora e embaixadora da Paz pela UPF/ONU. maribelbarreto1@gmail.com
