Regra de ouro e gentileza

Windyz Ferreira

Você já cumprimentou alguém que passou direto sem lhe responder ou estava falando com alguém que ficava olhando a tela do celular? Pois é, todos temos experiências de falta de gentileza que, muitas vezes, nos desconcertam, desorganizam e, às vezes, provocam raiva!

É interessante notar que pouco se fala sobre ser gentil no dia a dia. As pessoas talvez confundam gentileza com educação, mas ser gentil tem a ver com ter atenção e cuidado amoroso com o outro; tem a ver com suavidade e delicadeza na interação, independentemente de ser alguém conhecido/a, querido/a ou não.

Em um mundo com imensa disparidade social, a falta de gentileza é frequente no tratamento de pessoas de grupos vulneráveis: idosos, pessoas com deficiência, pessoas negras, aqueles/as sem recursos financeiros... Infelizmente, a indelicadeza na relação com pessoas em situação de vulnerabilidade está naturalizada, ou seja, é como se fosse “normal” ser indelicado com a moça da loja de sapatos que está deorando ou com o rapaz que está olhando seu carro para ganhar uma gorjeta.

A falta de gentileza, portanto, pode ser uma grosseria social ou, em um nível mais grave, uma discriminação (que é crime quando se trata de raça, etnia, deficiência, gênero etc.). Em qualquer situação, a falta de gentileza é uma ação negativa, desagradável e com baixa vibração. Uma ação que denota ausência de compaixão e amorosidade.

Mas o que a ciência nos ensina sobre sermos gentis?

De uma perspectiva científica, a gentileza pode ser entendida como um comportamento pró-social, ou seja, ações intencionalmente realizadas para beneficiar outros seres. Por exemplo, atuar como voluntário/a, fazer doações e oferecer um sorriso, um colo, uma escuta atenta ou oferecer palavras de incentivo e conforto a quem precisa. Pesquisadores categorizam a gentileza em componentes distintos, entre os quais:

  • empatia, base sobre a qual a gentileza se manifesta porque precisamos ser capazes de compreender e sentir a dor ou alegria do/a outro/a;

  • compaixão, que envolve o desejo de aliviar o sofrimento alheio, uma chamada que vem de dentro;

  • altruísmo, que é a manifestação de interesse e preocupação com o bem-estar de todos/as e que, algumas vezes, envolve até o sacrifício pessoal;

  • generosidade, que se traduz como a disposição de doar tempo, recursos ou trabalho aos outros/as.

Estudos utilizando a ressonância magnética funcional mostram que atos de gentileza ativam os centros de recompensa do cérebro, as mesmas áreas envolvidas em experiências prazerosas. Isso significa que o cérebro considera generosidade como algo gratificante, por isso o cérebro libera ocitocina, conhecida popularmente como o “hormônio da felicidade”, pois está associada à regulação do humor, da confiança, do bem-estar, da calma e da conexão social. Então, quando criamos vínculos amorosos ou temos contato físico (abraço, beijo), liberamos ocitocina que, por sua vez, reduz o estresse, melhora a imunidade, a saúde geral e a longevidade.

Embora a ciência elucide o como e o porquê dos benefícios da gentileza, sua importância transcende o puramente científico. Muitas tradições espirituais consideram a gentileza uma virtude fundamental porque é um reflexo de nossa natureza divina e um pilar da evolução espiritual. Em diversas crenças e escolas filosóficas, a gentileza é frequentemente apresentada como a regra de ouro: “faça aos outros o que gostaria que fizessem a você”. Assim, lembre-se dessa regra, comece já a cultivar a gentileza e viva com mais saúde!


Profa. Dra. Windyz Ferreira é especializanda em Neurociências e professora de meditação

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