Saúde mental nas empresas

Ligia Splendore

Você já foi afastado do trabalho por questões de saúde mental ou conhece alguém que foi?

Em 2024, o Ministério da Previdência Social divulgou que, em um período de 10 anos, o país teve o maior número de afastamentos do trabalho por transtornos mentais: 472 mil licenças médicas o que representa um aumento de 68% em relação a 2023. A depressão, a ansiedade e a síndrome de burnout (distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico) têm sido as causas principais desses afastamentos.

A saúde mental no ambiente de trabalho é um tema tão sério que, no mesmo ano, o governo federal aprovou a Lei 14.831/2024 para tornar as empresas responsáveis por criarem um ambiente mais humanizado. Assim, também no mesmo ano, o Ministério do Trabalho e Emprego atualizou a Norma Regulamentadora NR-1 que inclui a avaliação e gestão de riscos psicossociais no ambiente de trabalho e propõe que as empresas brasileiras implementem medidas específicas para promover a saúde mental dos seus empregados.

Na minha última coluna, apresentei o movimento Repensando a Loucura como um coletivo de pessoas que passam por experiências de profundo sofrimento mental, emocional e espiritual que se sentem incompreendidas e, muitas vezes, estão sozinhas para enfrentar suas dores. Denominamos esse grupo de pessoas como experienciadores/as para evitar qualquer discriminação e estigma como acontece quando se recebe um diagnóstico psiquiátrico. Hoje quero compartilhar com vocês algo surpreendente: minha experiência acompanhando experienciadores/as há 18 anos revelou que muitos/as não somente superam suas crises, como vivem transformações profundas em suas vidas, relações, trabalho e mesmo na sociedade.

Nessa jornada, foi criada a Rede Integrativa de Apoio Mútuo (RIAM), um braço corporativo do Repensando a Loucura que desenvolve trabalhos na área de saúde mental em instituições e empresas. A RIAM é composta por experienciadores/as que compartilham suas histórias como exemplos de superação e cura, inspirando outras pessoas a compreenderem a importância do autoconhecimento e do autocuidado. O depoimento da Fabiana Dutra, experienciadora que relata como a crise psicológica pela qual passou a ajudou a transformar sua vida para melhor, ilustra esse caminho.


“Entre 2018 e 2020 atravessei uma crise de transformação profunda. Foi como se eu recebesse um download de informações sobre mim e sobre o universo com uma velocidade tão grande, que era impossível ser processado. Fui incompreendida por familiares, amigos, profissionais. A invalidação do que eu estava vivendo me trouxe uma grande dor. Eu poderia ter escolhido a estagnação, vitimização, mas escolhi expandir! Transformei minha vida pessoal, encontrei meu propósito, migrando profissionalmente da engenharia à dançaterapia. Hoje, minha história inspira outras pessoas e as empresas onde desenvolvo meu trabalho como dançaterapeuta ensinando as pessoas a olharem para a saúde mental como um aspecto que faz parte da vida e da saúde geral. Tudo isso só foi possível porque encontrei no movimento Repensando a Loucura um espaço de acolhimento, dignidade e não julgamento. Lá, fui reconhecida em minha inteireza e pude me reconstruir. Assim, sigo compartilhando o respeito e o afeto que um dia me foram oferecidos, transformando não apenas indivíduos, mas também empresas e a sociedade como um todo.”

Fabiana Dutra, nascida em 1976 e renascida em 2018.

@fabiana_elisa_dutra www.fabidutra.com.br



Ligia Splendore é psicóloga transpessoal e criadora do movimento Repensando a Loucura.

ligiasplendore@gmail.com