Você tem atitude capacitista?
Genigleide da Hora
Considera-se discriminação em razão da deficiência toda forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou omissão, que tenha o propósito ou o efeito de prejudicar, impedir ou anular o reconhecimento ou o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais de pessoa com deficiência incluindo a recusa de adaptações razoáveis e de fornecimento de tecnologias assistivas.
Artigo 4º da Lei Brasileira de Inclusão, 2015
Desde os 7 meses de idade, sou uma pessoa com deficiência física. Hoje, como professora do ensino superior, sou também militante na defesa e promoção dos direitos e de políticas públicas que promovam o protagonismo da pessoa com deficiência. Como militante, quero contribuir para assegurar a representatividade de meu grupo social, ter nossas vozes ouvidas e nossa vez respeitada.
A atual conjuntura brasileira impõe desafios significativos para a inclusão de pessoas com deficiência nos vários espaços sociais, entre os quais, as desigualdades socioeconômicas, a escassez de financiamento, infrainstruturas impróprias e até mesmo legados da pandemia. Considero, portanto, urgente rupturas profundas para reconhecer, aceitar e incluir as diferenças humanas na sociedade. Como uma pessoa com deficiência, vislumbro a emergência de uma sociedade que valorize e se beneficie com uma cultura inclusiva que influencie a contrução de espaços sociais, organizacionais e comunitários que valorizem a diversidade e garantem que todas as pessoas, independentemente de suas diferenças (gênero, raça, orientação sexual, deficiência etc.), se sintam seguras, respeitadas e encontrem sempre iguais oportunidades de participação e desenvolvimento.
As palavras capacitismo, incapacitismo e deficientismo têm o mesmo significado, ou seja, “discriminação ou um conjunto de crenças pejorativas contra as pessoas com deficiência” (Sassaki, 2020), que representa a crença na falta de capacidade da pessoa por conta da sua suposta limitação ou deficiência. Durante minha vida como mulher e pessoa com deficiência, muitas vezes escutei frases capacitistas do tipo “Você é tão linda, nem parece ter deficiência!”, “Ei! Estou falando com você, até parece que está surda!”, “Não temos pernas para realizar isso”... Essas expressões são comuns e caracterizam atitudes capacitistas porque evidenciam discriminação e preconceito que nos vulnerabilizam. Mas é interessante observar que o capacitismo também pode se manifestar como um reconhecimento da capacidade de superação das pessoas com deficiência, frente às multiplas e contínuas barreiras que encontra em suas vidas: “Nossa, você é incrível por ter realizado X. Como conseguiu?!”.
Fruto de ignorância e desconhecimento, o preconceito explícito nessas manifestações faz parte do senso comum quando a pessoa com deficiência é vista como “exemplo” por tentar conduzir suas vidas de forma comum, “normal”, ou seja, em igualdade de condições como os demais, conforme garantido por lei. A atitude preconceituosa reconhece os esforços da pessoa com deficiência para estudar, trabalhar, ter lazer ao mesmo tempo em que enfrenta constante descaso dos contextos, da população e dos governantes.
Precisamos ocupar espaços e lutar contra o capacitismo e a exclusão porque, tanto quanto você leitor/leitora do JORNALZEN, temos o direito de viver nossas vidas junto a amigos, famíliares, na escola, na universidade, no mercado de trabalho ou qualquer outro espaço social. Por isso, quero com esta coluna contribuir para garantir que todos/as entendam e desenvolvam consciência sobre a gravidade das atitudes capacitistas e suas consequências. Somente assim: gradualmente, toda pessoa com deficiência encontrará apoio e oportunidades, para viver com dignidade, alegria e autorrealização.
Profa. Dra. Genigleide da Hora. Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc) e militante contra o capacitismo.
