Literatura a favor da inclusão

Cris Valori

“A leitura se tornou para ele um vício insaciável.” 

(Gabriel Garcia Márquez – O amor nos tempos do cólera)

 

Quem os vivencia como parte integrante da jornada, compreende o poder que os livros exercem na vida. A cada página lida, somos transportados para mundos, personagens, cenários e emoções diferentes, onde desenvolvemos a empatia, nos tornamos mais compreensivos, respeitamos as diferenças, além, é claro, de nos tornamos pessoas mais críticas, conscientes e letradas. 

Então, se por meio dos livros somos capazes de evoluir como pessoa, por que não usar a literatura a favor da inclusão?  

Para mim, o Brasil está longe de ser um país inclusivo. Aquela famosa frase “muito se fala e pouco se faz” se aplica perfeitamente na sociedade em que vivemos. Para apresentar uma literatura inclusiva é de suma importância que aconteça uma diversidade literária, ou seja, livros que retratem diferentes realidades, culturas, etnias, gêneros, orientação sexual e deficiências.  

Em relação às políticas públicas, precisamos de uma educação inclusiva e bilingue desde a educação infantil, nas escolas particulares e públicas; a formação inicial e permanente de professores; o atendimento na rede básica de saúde para os que precisam de tratamento, medicação e terapia contínua; atendimento psicológico para as famílias; escolas de qualidade com profissionais em quantidade e qualidade.  

Independentemente da deficiência, temos que conscientizar as pessoas de que a inclusão é a busca pela igualdade e que esse conceito deveria ser ensinado desde o berço, e não somente quando a necessidade surge. 

E justamente por causa dessa necessidade que me deparei com a Libras. Alheia ao mundo surdo, sempre enxerguei a língua de sinais como algo bonito e interessante. Existia curiosidade em conhecer um pouco mais sobre as mãos que falavam diante dos meus olhos, mas nada tão expressivo que me levasse para os estudos. Até o dia em que conheci um surdo. Um contato simples, cheio de expectativas (da parte dele) e vergonha (da minha). 

Se a inclusão é a busca pela igualdade, cadê a minha empatia? E, com a mente repleta de questões sem respostas, matriculei-me no curso de Libras, em 2018. A partir desse momento, compreendi a importância da acessibilidade em todas as esferas — vídeos legendados, tradução e interpretação, apoio e divulgação dos profissionais e produtores de conteúdos para surdos — e a certeza de que somos iguais.  

Levar o mundo surdo para as páginas de um livro tornou-se primordial. Mostrar por meio da literatura que existe vida no silêncio. Que todos somos capazes de sonhar, amar e ser feliz. 

Cris Valori é especialista em Libras

JORNALZEN® 2020 | TODOS OS DIREITOS RESERVADOS