Clima e segurança alimentar

Madá Neves

A variabilidade do clima e os eventos extremos são uma ameaça à estabilidade da segurança alimentar e da nutrição.

(Mario Lubetkin, subdiretor-geral da ONU para Alimentação e Agricultura)



Recentemente estive em Belém (PA), cenário da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), onde os debates foram intensos. Como estudiosa na área de alimentação, o que mais me chamou a atenção foram os tópicos discutidos em relação a produção de alimentos, a necessidade de sistemas alimentares mais resilientes e sustentáveis, a valorização da agricultura familiar e como as mudanças climáticas ameaçam globalmente a segurança alimentar e nutricional.

É alarmante saber em detalhes que a crise alimentar mundial não é uma probabilidade, mas uma realidade próxima porque estamos prestes a viver e senti-la na nossa mesa e no bolso. As mudanças climáticas e o aquecimento do global estão se tornando fatores determinantes na produção de alimentos, colocando a segurança alimentar global em sério risco. Segundo o Banco Mundial, os impactos combinados das mudanças climáticas e da inflação alimentícia estão contribuindo para o aumento da fome e da desnutrição em nível global e podem empurrar milhões de pessoas para a pobreza em apenas cinco anos!

As mudanças climáticas afetam a segurança alimentar mundial ao impactar a produção, a disponibilidade e os preços dos alimentos. Estamos sentindo na pele o aumento de temperaturas, as alterações nos padrões de chuva e eventos climáticos extremos como inundações, secas e ondas de calor que reduzem drasticamente a produtividade agrícola prejudicando, especialmente, as populações mais vulneráveis que sofrem perdas significativas nas plantações que afetam não só a estabilidade dos preços dos alimentos, a quantidade de terras cultiváveis, mas também a segurança alimentar e nutricional.

Estudos e pesquisas apontam que a produção de alimentos é responsável por cerca de 25% das emissões de gases de efeito estufa, principalmente devido à agricultura e ao desmatamento agindo diretamente nas condições climáticas do planeta. Para que a produção de alimentos saudáveis cultivados em solos saudáveis de forma regenerativa do solo é preciso com urgência difundir práticas agrícolas sustentáveis, como a agricultura orgânica e a agrofloresta, que reduzem as emissões de gases de efeito estufa e promovem a biodiversidade. Conscientizar sobre a alimentação saudável é fundamental para a saúde humana e para a preservação do meio ambiente porque uma alimentação sustentável ajuda a proteger o meio ambiente e beneficia a saúde humana ao reduzir risco de doenças crônicas ao mesmo tempo em que reduz a fome e a desnutrição especialmente em áreas vulneráveis.

É evidente que a crise que estamos prestes a enfrentar não é apenas uma questão de abastecimento alimentar, mas uma questão de sobrevivência e justiça global. As condições climáticas e suas consequências estão moldando nosso futuro, e é nossa responsabilidade coletiva agir agora para evitar uma catástrofe alimentar ainda maior. Para evitar tudo isso uma pergunta simples: o que podemos fazer individualmente e no coletivo para ajudar o planeta e a humanidade? Como podemos promover segurança alimentar? A resposta é simples: evitar o desperdício de alimentos ajudando a reduzir as emissões de gases que provocam o efeito estufa; fortalecer os sistemas alimentares locais e promover a agricultura sustentável ajudando a aumentar a resiliência às mudanças climáticas.


Madá Neves é professora, pedagoga, mestra em Tecnologia da Informação e especialista em Deficiência Intelectual

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