ZENTREVISTA: Andrés De Nuccio

CAMINHO DE TRANSFORMAÇÃO

Ao longo de mais de 40 anos, o psicólogo Andrés De Nuccio caminhou por muitas frentes. Formou mais de 700 professores de ioga e meditação. Acompanhou centenas de pessoas em psicoterapia. Conduziu mais de 30 viagens à Índia em contato direto com monges e mestres. Compartilhou práticas e ensinamentos com milhares de alunos em diferentes contextos. Dessa experiência, o fundador do Instituto Ísvara, em Campinas, idealizou a Confraria da Mente, espaço que reúne psicologia, espiritualidade e prática cotidiana. Nesta entrevista ao JORNALZEN (em que estreia nesta edição como colunista), Andrés fala mais sobre sua nova empreitada, resultado de uma vida dedicada a compreender a mente e a criar uma forma de transformá-la de verdade.

Qual é a origem dessa missão de oportunizar o desenvolvimento humano e espiritual em um tempo em que ioga e meditação eram tabus?

Meu primeiro contato com ioga e meditação foi na adolescência. Aos 14 anos, li Autobiografia de um Iogue, de Paramahansa Yogananda. Comecei a praticar ioga de manhã e à noite, todos os dias. Em poucos meses, eu era outra pessoa. As práticas de respiração, meditação e posturas transformaram minha vida. A ioga e a meditação me ensinaram a entender a mente, a relação entre corpo, respiração e pensamento: ao mudar a postura, o ritmo respiratório ou o foco da atenção, é possível transformar estados internos. A mente se tornou minha paixão.


Qual é a importância da meditação para o mundo caótico atual, com informações que nos absorvem a cada segundo?

A mente está conosco o tempo todo: de dia, de noite, até mesmo dormindo. Tudo o que vivemos acontece mediado por ela. Quando a mente está serena e lúcida, podemos enfrentar situações difíceis, mas conseguimos lidar com elas da melhor forma possível porque mantemos a serenidade. A meditação, por isso, é de extrema importância na vida moderna.


Você considera que as práticas de meditação e ioga ajudam em processos de cura?

Meditação e ioga são apresentadas como “coisas” diferentes, mas são uma única prática. A ioga tradicional é filosofia, ética, dever, controle da respiração e posturas corporais, e também controle da mente, comportamento e emoções. Quando trabalhamos com posturas corporais, estamos afetando a mente; quando cultivamos pensamentos que geram emoções construtivas, estamos somatizando emoções benéficas e saudáveis. A prática regular de ioga e meditação revoluciona a vida de quem pratica todos os dias e mantém no cotidiano uma atitude com foco, concentração, autocontrole, serenidade e conduta ética. A ioga tem o potencial de transformar, de forma real e profunda, sua vida e promover cura como consequência.


Explique para nossos leitores/as o que é a Confraria da Mente.

É o ápice da minha vida, onde reuni tudo o que aprendi ao longo de décadas, praticando e estudando ioga. A Confraria da Mente nasceu para pessoas que já conquistaram muito e que ainda sentem um certo vazio que nenhuma conquista externa consegue preencher: pessoas que já fizeram terapia, retiros, vivências espirituais, cursos, mas perceberam que, depois tudo volta a ser como antes. Então, o desafio é que a transformação acontece em vários níveis ao mesmo tempo: cerebral, emocional, mental e, sobretudo, espiritual. A Confraria oferece um caminho de transformação profunda e sustentada porque tem uma estrutura estável de práticas e reflexões diárias que reprogramam a mente pouco a pouco. Eu criei também o Percurso Cognitivo (leia mais na página 11), um programa gratuito, de três meses, que funciona como uma “amostra viva” do método, com as práticas e o modo de pensar da Confraria.


Conte um pouco sobre essas viagens que você organiza para a Índia.

Fui à Índia pela primeira vez no ano 2000, por quatro meses. Fiquei no ashram do Swami Dayananda Saraswati, estudando e, depois um mês viajando pelo país. Quando voltei ao Brasil, pediram para eu organizar uma viagem. Assim, nasceu a primeira. Já foram mais de 30 viagens, visitando diferentes regiões, dos Himalaias aos templos do sul da Índia.


Que prática espiritual de autoconhecimento indicaria a nossos/as leitores/as?

Qualquer prática espiritual é melhor do que nenhuma. Quando começamos, não temos a menor ideia do que é espiritualidade. Procuramos muito antes de encontrarmos abordagens mais ricas, profundas, bem fundamentadas e transformadoras. Naturalmente, eu recomendo a Confraria da Mente, porque acredito que reúne o melhor dos três mundos: psicologia, neurociência e espiritualidade, de forma não dogmática, pragmática e aplicável à vida cotidiana.


Como vê a proposta do JORNALZEN?

Extremamente valiosa em um mundo saturado de ruído e superficialidade. Este jornal oferece um espaço para pensar fora da caixinha. Para mim, é um ato ético, nobre e sagrado abrir espaço para ideias que inspiram, esclarecem e elevam o olhar humano.


Que mensagem gostaria de deixar para os/as nossos/as leitores/as?

É fundamental que a gente entenda que tudo é impermanente, temporário. Não há segurança real neste mundo. Não há paz duradoura. Descobrir a dimensão que não muda, mesmo quando tudo o mais muda, acontece quando a consciência desperta e a vida encontra seu verdadeiro sentido.