João Scalfi
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Resgatando os sonhos

Na vida espiritual, a grande maioria dos que deixaram o corpo físico carregam consigo lastimável estado emocional de descrença e desvalor, em razão de perambularem pela vida física abatidos pelas provas e expiações dolorosas, que lhes subtraíram a capacidade de sonhar, de viver em paz e ser feliz.

As experiências das provas na opressão, no sofrimento, nas privações, metas não atingidas, perdas “irreparáveis”, anseios reprimidos, doenças “incuráveis”, velhice frustrada, tudo isso nas mágoas e nas vielas da obsessão e da enfermidade reduzem a liberdade do homem, comprimindo-o a regimes severos de disciplina e aprendizado.

Nessa conjuntura seus sonhos e ideais são soterrados por obrigações e necessidades de cada dia no amargor da realidade.

A função das provas, porém, entre outras, é ensinar a sonhar o que se deve fazer e não matar o sonho.

Sonhar é pensar em crescer, ter metas, desejar progredir, encontrar soluções e vencer suas batalhas.

Sonhar é pensar sobre o futuro; quem não sonha não tem planos e nem anseios de progresso.

Somente sonham aqueles que se sentem úteis e produtivos, porque acalentam ideais.

Sem sonho as pessoas vivem sem aprender, sem construir.

O tempo subjugado pela rotina retira imperceptivelmente da criatura os planos de vida e as “fantasias” de progresso, exigindo extrema capacidade de administrar as frustrações para conseguir viver e conviver ajustada aos parâmetros sociais exigidos, que, embora frágeis, tornam-se estacas de segurança e estímulo para que a desistência não tome conta da mente cansada e do coração vazio de esperanças palpáveis.

Nessa peregrinação de vazios sentidos, pobreza de valores e vivências é que muitas almas fazem o doloroso aprendizado dos bons costumes e da melhoria espiritual. Tolhidos muitas vezes do essencial, caminham vencendo séculos ou milênios de endurecimento no mal.

O afeto revitalizava em suas almas a coragem, o ânimo, a esperança, resgatando antigos valores adormecidos e espezinhados pela tormenta e pela sofreguidão.

Retomam também, ao longo de um tempo, a capacidade de sonhar colocando em ação a imaginação e a criatividade, no desenvolvimento de metas sábias e harmonizadas com os novos conhecimentos e projetos de vida, sob a tutela da Imortalidade.

O estudo e o trabalho fraterno servem-lhes de investimento motivador da liberdade com responsabilidade, para a qual irão destinar, de agora para o futuro, todos os seus esforços possíveis na tentativa de dar sentido nobre e embelezador às suas vidas, até então, para eles, vazias e pobres.

Esse idealismo, essa paixão por um sonho de melhora espiritual é das mais preciosas dádivas a qual pode entregar-se alguém, frente aos muitos sonhos ilusórios e vácuos cultivados pela maioria esmagadora da humanidade terrena, ante os apelos do materialismo e do prazer dos sentidos.

Repetindo a diretriz do Mestre, vinde a mim que vos aliviarei, (Mateus 11.28) na busca por uma vida mais espiritualizada para recuperar sua dignidade a sentir-se novamente um Filho de Deus.

Precisamos dar encanto as nossas vidas. Encanto esse, acima de tudo, na vida interpessoal dispondo-nos ao cultivo da ternura, do respeito e carinho para que, antes do sonho, o ser sofrido e em provação, resgate a confiança no outro, reavivando suas sucumbidas esperanças nos valores humanos cristãos e renovando suas crenças falidas no amor e na felicidade.

A educação espiritual, entre vários significados, contempla o ser como incomparável guia, auxiliando-o a se reencontrar e a retomar razões para vive e sonhar.

Fonte: Laços de afeto

(Wanderley de Oliveira/Ermance Dufaux)

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