Novembro Negro: tempo de lembrar quem somos

Novembro Negro é tempo de lembrar e tempo de celebrar: Dia 18 é o Dia Nacional de Combate ao Racismo e Dia 20 é o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. É tempo de Sankofa — princípio africano que nos ensina que não há futuro sem reconexão com o passado. Sankofa, representada por um pássaro mítico e um coração, simboliza o retorno ao passado para recuperar a sabedoria e a herança ancestral, a fim de construir um futuro melhor.

Lilian Galvão

Novembro Negro é tempo de lembrar e tempo de celebrar: Dia 18 é o Dia Nacional de Combate ao Racismo e Dia 20 é o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. É tempo de Sankofa — princípio africano que nos ensina que não há futuro sem reconexão com o passado. Sankofa, representada por um pássaro mítico e um coração, simboliza o retorno ao passado para recuperar a sabedoria e a herança ancestral, a fim de construir um futuro melhor. O pássaro que voa de cabeça para trás nos convida a resgatar o que foi esquecido: a experiência, a riqueza, o saber e a dignidade que nos foram subtraídos. Sankofa, além de ser um símbolo, representa uma ética de vida: um convite à lembrança como meio de reparação, cura e transformação.

No Brasil, as marcas do colonialismo são feridas expostas, visíveis nas desigualdades, no racismo estrutural e ambiental, na precarização do trabalho, nas diversas formas de violação de direitos, na necropolítica, na destruição de territórios e na exclusão social. Diante do caos, das crises ambientais, da violência e das polarizações, Sankofa nos convoca à calma, pois as cosmologias africanas nos recordam que tudo o que existe está interconectado e que o ser humano não é o centro nem o “CEO” do mundo, mas um fio da extensa rede que sustenta toda forma de vida. Quando essa rede se desfaz, a vida adoece — nas catástrofes, nas inundações, nas secas, na fome, nos conflitos e nas doenças que afetam o corpo e o self.

Que lugar ocupamos quando rompemos a conexão com a Terra e com a irmandade? Na busca por poder, status e progresso, que valores abandonamos?

O Novembro Negro não é uma data, mas um chamamento à reflexão sobre nossa ancestralidade e origens. Como ensina Sobonfu Somé em O Espírito da Intimidade, voltar à ancestralidade implica recuperar os princípios da circularidade, da partilha e do respeito à natureza — valores que sustentaram civilizações e que ainda podem fertilizar a esperança. Zumbi e Dandara dos Palmares nos lembram que a resistência é um meio de transformação coletiva. Carla Akotirene nos convida a observar os enredos do racismo e do patriarcado sob uma perspectiva interseccional. Frantz Fanon nos ensina que a libertação é um processo profundo de descolonização tanto do corpo quanto da mente. José Pilintra nos motiva, nas encruzilhadas da existência, a agir com dignidade e astúcia, mantendo o equilíbrio entre luz e sombra. Carolina Maria de Jesus nos recorda que a palavra é uma poderosa ferramenta para denúncia, ascensão e transformação.
E que nunca esqueçamos: lembrar é um ato político e espiritual. Por isso, celebre novembro!

Lilian Galvão. PhD. Doutora em Estudos Africanos. Psicóloga Inspiracional.
@liliangalvao.br

Fonte/imagem: Dicionário dos Símbolos