O autocuidado para o fortalecimento interno
Jackeline Susann
“Devia ter complicado menos / Trabalhado menos / Ter visto o sol se pôr / Devia ter me importado menos / Com problemas pequenos/ Ter morrido de amor...”
Música: Epitáfio
Compositores: Sergio Affonso & Eric Silver
O trecho acima da música Epitáfio inevitavelmente nos leva a refletir sobre o peso da vida com excesso de trabalho e preocupação... Isso certamente acontece com você. Você já pensou em como viver com agenda cheia, conectada e correndo para dar conta de tudo, acaba apagando a leveza e a simplicidade de curtir o dia a dia?
Nesta coluna vou convidá-la/o a se comprometer com seu autocuidado e viver com o máximo de bem-estar. A palavra auto exprime o cuidado como parte da formação e entendimento da pessoa sobre si própria. Já, cuidado significa tanto um estado de alerta como a atenção e responsabilidade com alguém ou algo, visando preservar o bem-estar, apoio emocional e até a sobrevivência. O autocuidado, por sua vez, muda o foco da atenção de fora para dentro, para a relação consigo mesma/o, abrangendo todas as dimensões da vida, como saúde, sexualidade, corpo, emoção, amor e, claro, autoconhecimento.
Nas redes sociais, contudo, é comum a difusão do autocuidado dirigido à mulher, em particular, relacionado à atenção feminina a rotinas rígidas de estética, culto a padrões de beleza inatingíveis, investimentos em produtos caros e procedimentos cirúrgicos invasivos. Ao contrário de proporcionar liberdade e fortalecimento interno, essas práticas acabam gerando pressão social e conflitos de imagem.
O autocuidado não se resume a padrões estéticos e ao consumo porque vai muito além das aparências e das regras sociais; ele tem a ver com sentir-se bem por você e para você. O autocuidado não é simplesmente adotar uma rotina de estética ou de meditação. Muito mais que isso, ao se autocuidar, você aprende a se conhecer melhor, para sentir a vida para além das tarefas e cobranças sociais. Ao olhar para dentro de si, você se auto-observa e faz escolhas a seu favor e não apenas responde automaticamente às demandas cotidianas. Ao colocar o foco em você e no seu bem-estar, gradualmente, aumenta seu autocuidado e sua gentileza consigo mesma/o com o intuito de refletir sobre seu dia e o que é melhor para você. Você passa a se acolher e de forma cada vez mais natural, compreendendo e refletindo sobre quem é e quais aspectos da sua história precisam ser mudados.
O autocuidado é também um ato político porque ao mesmo tempo reconhece a nossa identidade – quem sou eu? – e a nossa cultura – onde estou, o que me representa e qual meu propósito de vida? É uma forma de dar atenção plena a si e à própria história de vida, conectada ao âmbito social. Neste processo, os autojulgamentos são substituídos pela reflexão e pela autotransformação. O autocuidado, portanto, se consolida em um processo de fortalecimento de si, de zelo e de reconhecimento do nosso lugar no mundo.
Eu vivi esse processo. Sou Jackeline. Amo livros, filmes e gatos. Como professora universitária há mais de dez anos, faço pesquisa científica, produzo livros, capítulos e artigos. Em muitos momentos, me deparei com desafios que – nós mulheres – enfrentamos no cotidiano, o que me despertou para a importância do autocuidado. Em 2018, escrevi 31 Dias de Autocuidado: um livro prático, disponível na plataforma Amazon. Por isso, nesta coluna do JORNALZEN, vou abordar temas sobre o autocuidado e qualidade de vida, incluindo dicas e sugestões de atividades para você implementar em sua rotina. Espero que goste e, principalmente, comece a se cuidar pra valer.
Profa. Dra. Jackeline Susann Souza da Silva é pesquisadora com foco em relações de gênero e acessibilidade para pessoas com deficiência.